21.3.06

Porque hoje é dia...


Ainda que todos se lembrem e festejem o Dia Mundial da Árvore ou a chegada da Primavera [recuso-me a festejar a chegada da Primavera quando ela EFECTIVAMENTE não anda por aí; deve-se ter perdido algures nas Caraíbas...], hoje as minhas linhas são para o (mais esquecido) Dia Mundial da Poesia. Não que seja fã incondicional ou que tenha muitos livros de poesia. Aprecio com moderação.
Não vou transcrever o meu poema preferido [da autoria de Pablo Neruda, naturalmente] mas um poema que descobri, com agrado, num livro que me foi oferecido há largos anos.

Pergunta-me

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer.

[@ Raiz de Orvalho e Outros Poemas, de Mia Couto]

E poesia faz-se todos os dias. Até numa sala de audiência. Como a testemunha de hoje quando inquirida quem era o senhor X. Resposta pronta: "Ele é o ex-pai do filho dela". Digam lá que isto não é poesia?! Bonito!

1 comentário:

joão marinheiro disse...

Gosto dessa força Joaninha.Sem mais.
Abraço em espirais de palavras, se contiverem em si poesia tanto melhor...