30.1.08

Escritos


"O pensamento voa e as palavras vão a pé: eis o drama do escritor". (Julien Green)

"Quando se trata de escrever, acredito mais na tesoura do que na caneta". (Truman Capote)

"Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança". (Ernest Hemingway)

Porque hoje se comemoram 2 anos desde a inauguração deste espaço, deixo alguns dos motes para a minha escrita, que, por falta de tempo, tem sido menos frequente do que queria...

22.1.08

Expiação

Joe Wright - o realizador - confessa-se devoto de happy endings e, na sequência do que já tinha criado em "Orgulho e Preconceito", traz-nos para o grande ecrã a adaptação de uma obra, desta feita de Ian McEwan (Atonement, de 2001).

Não se pode dizer que os happy endings de que o realizador se afirma fã seja o tradicional "e viveram felizes para sempre". É só e apenas uma visão possível - e quiça distorcida (como a visão da personagem que desencadeia a expiação) - do que significa a felicidade eterna.

A obra de McEwan, já premiada, é toda ela o suporte do filme. O argumento conta uma história, aparentemente simples, de Briony que, aos 13 anos, assiste ao romance da sua irmã, Cecília (Keira Knightley) com Robbie (James McAvoy) e, em virtude de um conjunto de "mal-entendidos", toma uma decisão que vai mudar o rumo de toda a família.

A vida de Briony será, pois, vivida na expiação do mal provocado. Até à velhice, na pele de escritora [com o pormenor - pouco real - do mesmo penteado sobreviver desde os 13 anos até aos 90 anos...], quando relata, de forma pouco imparcial, os factos ocorridos no âmbito da sua família.

O filme é, assumidamente, divisível em duas partes. A primeira, no sossego campestre, em palácios sumptuosos, e de uma concepção das personagens quase que como se saíssem de um quadro emoldurado. A segunda parte, ocorrida aquando da II Guerra Mundial apresenta uma fotografia própria do ambiente bélico. Ainda que se destaque todo o trabalho de recriação daquele momento, falhou a preocupação como o argumento que é, surpreendentemente, relegado para segundo plano.

A música que acompanhada as personagens, [os seus passos pelo soalho], é de um ritmo que evoca as batidas de uma máquina de escrever e é de uma envolvência indescritível. Talvez por isso, seja merecidíssimo o globo de ouro conquistado pela banda sonora do filme.

Saldo final - 4 estrelas [lamenta-se que os actores principais não tenham trazido a mais valia necessária para chegar às 5 estrelas. Ao nível da representação, talvez só mesmo Saoirse Ronan (Briony) mereça destaque, tendo-lhe já valido nomeação para melhor actriz secundária].

21.1.08

Rotas

Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

(Jorge Palma, A gente vai continuar)

Eloquências de meia-noite, traduzidas por versos.

19.1.08

Portugal no seu melhor - iv

Nós por cá temos um especial apreço por aquelas notas com pedidos e agradecimentos colocados nos prédios onde se diz "agradecia que fecha-se sempre a porta" e afins. Desta vez o apreço foi ainda maior, visto que aqui se juntam vários motivos de regozijo em apenas sete linhas...

7.1.08

O legislador

Ainda que a tão falada Lei 37/2007 seja objecto de interpretações distintas, especiais, excepcionais, únicas, dúbias, pela ASAE, pelos casinos, pelo Ministério da Saúde, e àparte todas as controvérsias, não se pode acusar o nosso eloquente legislador de falta de honestidade. Atentem neste segmento que transcrevo que é, para mim, uma das melhores pérolas do diploma:


5.1.08

Promessas perigosas

"Eastern Promises" (no título original) encontra a sua mais valia no argumento muito bem escrito e no leque de actores com uma representação consistente.

Reconheço que me supreendeu positivamente - dada a ausência, em Coimbra, de alguns filmes que queria ver - fui convencida a ver este, que já conta com algumas semanas em exibição no nosso país. E o filme conquista quase desde o início.

David Cronenberg recupera-nos Viggo Mortensen (o "saudoso" Aragorn do Senhor dos Anéis) e atribui-lhe o papel principal - de Nikolai - (que já conduziu a uma nomeação para um Globo de Ouro como melhor actor) num enredo do interior das máfias de leste, operante em Londres.

Naomi Watts (Anna) representa o papel de uma parteira que, por um acaso, toma conhecimento de um crime cometido no âmbito das máfias de leste. O que constitui o pretexto para conhecer as famílias russas, com as suas práticas, hábitos e crimes. Saliente-se, ainda, a representação de Vincent Cassel, no papel de Kirill.

Não é só mais um filme de acção, um triller, um drama ou uma história bem contada. Talvez seja tudo isso ordenado sob a batuta de um realizador que quis imprimir o maior realismo a cada uma das cenas. A todas as cenas. Incluindo as mais crúeis e brutais, sem descurar a própria fotografia. Como se não tivesse qualquer tipo de compaixão pelo espectador, não o poupando das cenas mais violentas.

O canadinado Cronenberg não esquece a pincelada político-social - o KGB e o seu sucessor, a imigração vinda de Leste à procura de melhores condições de vida e que apenas conduz ao ingresso num sub-mundo, com a luta pela sobrevivência e dignidade.

Saldo final - 4 estrelas. Um filme absolutamente recomendável.