11.1.07

A condição humana


Com o título do post, quase que seria remetida para aquela penosa investigação em relação à obra de Hannah Arendt.
Em vão, tentávamos perceber a distinção entre "vita activa" e "vita contemplativa". Quando releio aquelas 15 páginas escritas sobre "A condição humana" e sobre "A banalidade do mal", relembro a proposta da Autora de aceitar a pluralidade, a diferença e de apelo àquilo que caracteriza a humanidade que é a dignidade. A condição humana.

Foi Hannah Arendt que eu recordei após ter visto o filme Babel.

O filme, de Alejandro González Iñárritu, é, sem o esconder, todo feito para as estatuetas douradas.
Três histórias, passadas em pontos territorialmente distintos, ligam-se entre si a partir de um disparo relativamente acidental de uma arma.
O realizador manteve o mesmo registo de "21 gramas", mas menos confuso, mais fácil de entender e, sobretudo, que é o que releva, mais fácil de convencer o público.
E o público fica convencido. Quer pelo argumento (bem elaborado), quer pela fotografia (muito diferente mais igualmente rica, em qualquer dos cenários das três mini-histórias) quer pela, normalmente esquecida, banda sonora.

O enredo vai-se expondo e envolvendo o espectador. Que compreende a humanidade e, principalmente, a realidade de cada uma das personagens.
Desde a japonesa adolescente à procura de reconhecimento e atenção, ao casal que tenta "salvar o casamento" refugiando-se em Marrocos, até à ama mexicana sujeita ao controlo da imigração.
Recomendo. E leva 4 estrelas.

6 comentários:

rtp disse...

Já tinha vontade de ver. Este comentário aguçou (ainda) mais essa vontade!

Mr. Sherlock disse...

Ui, que recordação... Fizeste lembrar do "Bem e do Justo". Essa gradne tese de um tipo chamado clg que nunca viu a luz do dia das publicações mas que lhe garantiu uma boa nota e o fez perceber não era tão mau aluno quanto lhe tinham feito querer - com a excepção de uma oral de trabalho em setembro (já pareço o Vitor Espadinha a imitar o Joe Dassin) ao longo de 5 anos...

Sub-Lodo disse...

Eu estive lá! A Psicasténica esteve junto com o Em Fuga na estreia! Mas eu desminto aqui a Joaninha...estas belas palavras só podem ser fruto de um sonho...ela passou todo o santo filme a dizer "Ai o Brad Pitt", "Ai o Gael Garcia Bernal", "Ai os japoneses", "Ai os marroquinos". Depois de tanto ênfase dado à líbido não sei se terá visto o filme...mas pronto...vou fingir que acredito:)))) Já agora...a tua mensagem de parabéns está no post errado...ora vai lá ver à Psicasténica!!! Eu estava a brincar; ela não disse "Ai o Brad Pitt" e "Ai o Gael Garcia Bernal".

Anónimo disse...

«A Torre de Babel é mencionada no livro bíblico do Gênesis como uma torre enorme construída pelos descendentes de Noé, com a finalidade de tocar os céus. Deus, irado com a ousadia humana, teria feito com que todos os trabalhadores da obra começassem a falar em idiomas diferentes, de modo a que não se pudessem entender, e assim, acabaram por abandonar a sua construção. Foi neste episódio que, segundo a Bíblia, explica a origem dos idiomas na humanidade. (Gênesis 10:10; 11:1-9)» Ou a origem das diferenças e dos desentendimentos e da dificuldade em conviver com eles.
Babel significa, etimológicamente, porta de Deus e, igualmente, confusão.
A incompreensão e a intolerância não é exclusivo dos povos em desenvolvimento, aliás, ninguém consegue fugir a falar uma lingua diferente e não se fazer entender ou não entender os outros. O esforço é endógeno. Só assim se fazem as grandes mudanças.
O realizador não foge à sua própria cadência pelo que não prima, neste filme pela originalidade. Comsegue, contudo, trazer à colação temas actuais como a relação entre os EUA e o mundo árabe e, bem assim, com o problema das fronteiras e da imigração, em particular, a linha nacional e literal que separa o pais dos gringos do outro mundo, não fosse Iñárritu mexicano. Por outro lado explora temas já recorrentes, apesar de imprimir uma visão própria, como a impossibilidade de fugir aos medos, a busca obsessiva dos afectos, fobia da solidão, a dor, a doença, o vazio, a saudade, o arrependimento, a líbido, a redescoberta do amor enquanto se micta...
Quem não se revê?!
Do realizador falta ver «amores perros», o primeiro e, dizem, dos melhores, mas, do que pude investigar, a temática é semelhante.

Anónimo disse...

Adorei o filme. Mas não posso deixar de fazer um reparo: não são 3 e sim 4 histórias as que vamos acompanhando. A jovem japonesa; as aventuras pelo casamento mexicano; a tentativa de recuperação de um casamento americano quase terminado; e o drama de uma família pobre de pastores marroquinos. O drama dos dois irmãos passou-te assim tanto ao lado Joaninha?... É que para mim foi essa a história mais forte do filme.

Joaninha disse...

Jgil,
O drama dos dois irmãos não foi esquecido, dada a importância que teve para o desenrolar dos outros episódios! Obrigada pelo reparo! ;PP