25.1.07

Cartazes e argumentos

Não tenho por hábito, neste espaço, fazer conjecturas de índole política. E, para dizer a verdade, o futuro referendo em relação à despenalização da interrupção voluntária da gravidez é muito mais ou, pelo menos, algo diferente, de uma discussão política.

Apesar desta ausência de conjecturas políticas, não resisto a demonstrar alguma perplexidade em relação ao conteúdo dos cartazes do "NÃO" expostos pela Invicta.

A argumentação aí exposta parece-me pouco credível, apelando a conhecimentos de futurologia. Como é que se consegue afirmar que o voto no "SIM" vai aumentar o número de abortos? Não existem dados dos actuais, como se pode fazer a comparação? Essa conjectura?

Não está em causa a defesa ou não do aborto. Em relação ao aborto propriamente dito, acredito que a maioria está contra. O que se discute é a despenalização. É essa distinção que a campanha pelo "NÃO" tem, quanto a mim, tentado diluir.

Espero que, até ao dia 11 de Fevereiro, a discussão - que acho saudável - não caia na banalidade, nem recorra a argumentos pobres e inconsistentes ou se confunda com uma discussão religiosa e/ou moral.

Os cartazes em questão podem ser vistos aqui.

1 comentário:

Nuno Q. Martins disse...

Dra. Joana;

Desculpe-me mais uma vez a intromissão, mas apetece-me deixar algumas palavras sobre o post em análise.

Francamente, acho que a siscussão pública já caíu na "banalidade". Arrisco-me a dizer que este ano o Carnaval já está remetido para segundo plano.
As guerras político-partidárias já se fazem sentir um pouco por todo o lado. Não sou contra a participação dos partidos no debate, mas assumir "vitórias" ou "derrotas" políticas consoante o resultado do referendo já me parece um contra-senso.
Impressionante, também, a mesquinhez de alguns movimentos e juventudes partidárias que se digladiam nas ruas destruindo material de campanha uns dos outros. É um "espectáculo" triste que tem acontecido um pouco por todo o país.
Depois, pergunto-me, como podem alguns ilustres da igreja católica apelar à não radicalização das posições, quando alguns representantes do próprio clero proferem declarações públicas incendiárias?
Os argumentos mais badalados pelos defensores do "Não" são, em regra, demagógicos e sensacionalistas. O apelo à "paixão" em detrimento da "razão"... procurando "chocar" as pessoas, mobilizando-as no sentido de voto pretendido.
É fácil apontar que nos países onde o aborto foi despenalizado, o os números aumentaram. Nessa mensagem, omitem propositadamente que antes não era possível quantificar, uma vez que estes eram clandestinos.
Enfim, lança-se muita poeira para os olhos.
Pessoalmente, por princício, sou contra o aborto, mas no referendo votarei no "Sim", contra a hipocrisia e pelo valor da liberdade individual de cada ser perante um "ser dependente", cujo valor da vida às 10 semanas é questionável.