28.11.07

Memórias Póstumas

Há umas semanas atrás, no âmbito de uma conversa de trivialidades, o tema foi "qual é o maior escritor brasileiro?". A resposta pronta, dada por um autóctone, foi Machado de Assis, apontando de imediato o livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

E estava lançado o mote e convite à leitura. A uma velocidade de leitura calculada de 15 minutos por dia (na melhor das hipóteses) foi um livro para se ir lendo.

Com capítulos curtos e divertidos, o autor, colocado na pele de Brás Cubas, vai contando, cronologicamente, os retalhos da sua vida. A obra dedicada "ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver" é inevitavelmente realista e pode aproximar-se a alguns escritos de Eça de Queiroz.

Não foi tarefa fácil a escolha de um excerto para aperitivo - com inúmeros segmentos que poderiam saltar para o post - mas deixo este, eloquente q.b.:

"Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco a eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o mais defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar..."
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Biblioteca Editores Independentes, pág. 172)

25.11.07

Gangsters

A fórmula não é mais do que um "baralhar e dar de novo". O cinema norte-americano colecciona filmes que retratam os anos 70' em Nova Iorque, com lutas de grupos de gangsters que tentam dominar o submundo da droga.

Como pegar num tema mais do que comum e introduzir algum elemento de novidade que consiga o aplauso do público?

Ridley Scott escolhe dois actores oscarizados - Denzel Washington e Russel Crowe -, atribui-lhes funções maniqueístas (o primeiro representa o crime organizado na cidade e o segundo a luta contra o mesmo), introduz elementos polémicos (a guerra do Vietname) e espera que resulte.

Quanto a mim, resulta. Denzel Washington tem uma representação coesa e bem estruturada, livrando-se da conotação óbvia de que só consegue fazer papéis de "boa pessoa".

O argumento é inteligente - adaptado de factos verídicos - (em especial, quando são confrontadas as duas personagens principais) e tem o mérito de prender o espectador, o que não seria tarefa fácil atendendo à duração do filme.

Mais do que a tentativa policial de combater o tráfico de droga em Nova Iorque, há, no enredo, uma tentiva de desmascarar a corrupção, incluindo dos elementos policiais.

O que falta para não receber as 5 estrelas? Talvez alguma ousadia? A referência, na perspectiva em que é feita, à guerra do Vietname é louvável, mas logo se tenta corrigir a mão e forçar um final que poderia ter sido mais intrigante.

Gangster Americano vale pelos actores - que fazem quase o trabalho todo - mas não consegue superar o Departed (Entre Inimigos), sendo a comparação exigida dada a proximidade temporal entre os dois e, até, semelhanças no próprio argumento.

Parece-me que não vai ser um filme esquecido pelos Óscares, sobretudo ao nível da representação... Mas as contas ainda vêm longe.

Saldo final - 4 estrelas.

23.11.07

Elizabeth - A idade de ouro

A crítica não tem poupado o filme, apontando, sobretudo, o facto de não ter explorado um pouco mais a dimensão psicológica da personagem central - a rainha Isabel I.

"Elizabeth - A idade de ouro" vale pela fotografia, guarda-roupa e afins (as famosas perucas), e por alguns momentos mais inspirados do argumento e pouco como filme histórico. Reconhece-se que poderia ter havido alguma criatividade e especulação quanto à representação da vida pessoal da rainha, concretizando alguns rumores históricos de "affairs".

Cate Blanchet cumpre o seu papel (ainda que não seja nada de extraordinário) - de rainha seráfica, mas, ao mesmo tempo, à procura da conquista do povo, tentando conciliar o cumprimento dos deveres régios com a necessidade (e curiosidade) de uma vida menos fria e mais completa.

Um filme leve cujo ponto alto reside, quanto a mim - mais do que na batalha com a Armada Invencível - na traição e sanção com execução de Mary Stuart (Samantha Morton muito bem na sua representação, principalmente no pormenor do último olhar antes da execução).

Vê-se bem, mas a história não nos acompanha de regresso a casa (talvez seja um critério falível para avaliar a qualidade de um filme, mas é o que a casa gasta... ;)).

Saldo final - 3 estrelas.

14.11.07

Quando o telefone toca


Naturalmente que o título do post nos remete para o mítico programa da Rádio Clube Português, apresentado por Matos Maia. "Posso dizer a frase?"

Feita a homenagem, recupero o verdadeiro propósito. Quando o telefone toca... que música é que toca?

Longe vão os tempos (quiça nos primórdios dos telemóveis) em que só se ouvia o irritante Ring Ring ou o inconfundível Nokia Tune.

Actualmente, o que se coloca como música no telemóvel será, talvez, um espelho da pessoa. E tanto ouço telemóveis que tocam com um cão a ladrar (algures numa aula teórica da faculdade - "pronto, o telemóvel já vibrou três vezes, agora começa a ladrar", diz-me ela entre dentes), como com um riso de uma criança.

A geração "Morangos com Açúcar" tem todos os novos hit's no telemóvel, toques esses que variam por cada pessoa que liga. Para cúmulo do desespero, experimentem ouvir os toques do crazy frog da imagem...

E vocês? O que toca... quando o telefone toca?

7.11.07

Frase do dia - vii


Se trabalhas com papéis não tenhas copos cheios de água em cima da secretária.


P.S. Upss...

6.11.07

Os limites da criatividade

Reconheço que poucas coisas me divertem tanto como a publicidade criativa. A par da publicidade reconheço algum talento àquelas pessoas que, nascendo com alguma criatividade, fazem disso profissão.

Refiro-me àqueles que concebem objectos estranhos mas que defendem a absoluta necessidade da sua utilização generalizada.

Vêm todas estas divagações a propósito de uma revista de venda por catálogo que se passeava lá por casa. Como o tempo para leituras mais aprofundadas escasseia, atirei-me àquela revista e descobri objectos tão preciosos quanto imprescindíveis nas páginas da mesma.

Vejam lá se não tenho razão:




[Kit de golf para escritório.
Para jogar entre duas reuniões, com um tapete verde a imitar a relva. Com sorte ainda acerta em alguém mais aborrecido...]









[Suporte de bananas.
Dizem os entendidos que é para que elas amadureçam... Também têm para pessoas?]







[Apoia pés para o duche.
Aceitam-se contributos para a sua utilidade...]









[Baralhador de cartas.
Para fugir às batotas]



Todas as ideias aqui.

3.11.07

Crazy (Alanis Morissette)




O original é de Seal, mas Alanis Morrissette recuperou a música há cerca de dois anos e emprestou-lhe um ritmo mais animado e divertido. Já há algum tempo que queria ter colocado aqui no blog. Aqui fica, hoje, para recordar uma cantora que serviu de banda sonora em muitas festas há uns anos atrás, com o álbum Jagged Little Pill e as educativas letras das músicas que então compunham o álbum...

Falta de tempo?


É notória a minha falta de tempo nas últimas semanas (que se traduz numa evidente escassez de escrita neste espaço); mas ao ler um dos e-mails que recebi recentemente, descobri que o mal não é só meu. Senão vejam, mais resumido:

"Dizem que todos os dias temos que comer uma maçã para o ferro e uma banana para o potássio. Também uma laranja, para a vitamina C, meio melão para melhorar a digestão e uma chávena de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes. Todos os dias temos que beber dois litros de água. Todos os dias temos que tomar um Activia ou um iogurte para ter 'L. Cassei Defensis', que ninguém sabe exactamente o que é que é mas parece que se não ingeres um milhão e meio todos os dias começas a ver toda a gente com uma grande diarreia ou presos dos intestinos.

Cada dia uma aspirina, para prevenir os enfartes mais um copo de vinho tinto, para a mesma coisa. E outro de vinho branco, para o sistema nervoso. E um de cerveja, que já não me lembro para que era.

Tens que fazer quatro a seis refeições diárias leves sem te esqueceres de mastigar cem vezes cada garfada. Ora, fazendo um pequeno cálculo apenas a comer vão-se assim de repente umas cinco horitas. Ah, depois de cada refeição deves escovar bem os dentes, ou seja: depois do Activia e da fibra os dentes depois da maçã os dentes depois da banana os dentes e assim, enquanto tiveres dentes sem te esqueceres nunca de passar o fio dental massajador das gengivas e bochechar com PLAX...

Temos que dormir oito horas e trabalhar outras oito [sem contar todas as outras horas extraordinárias...] mais as cinco que usamos a comer, faz vinte e uma.

Restam três horas sempre que não surja algum imprevisto. Segundo as estatísticas, vemos três horas de televisão diárias. Bem, já não podes porque todos os dias devemos caminhar pelo menos uma meia hora (dado por experiência: ao fim de 15 minutos regressa senão andas mas é uma hora!). E há que cuidar das amizades porque são como uma planta: temos que as regar diariamente.

Também temos que arranjar tempo para a maquilhagem, a depilação/fazer a barba, varrer a casa, lavar a roupa, lavar os pratos e já nem digo, os que têm gatos, cães, pássaros e uma catrefada de filhos...

No total, a mim dá-me umas 29 horas diárias se nunca parares. A única possibilidade que me ocorre é fazer várias destas coisas ao mesmo tempo: por exemplo, tomas duche com água fria e com a boca aberta, e assim bebes logo os dois litros de água de uma vez.

Enquanto sais do banho com a escova de dentes na boca, vais fazendo o amor, o sexo tântrico, parado, junto ao teu mais que tudo, que de passagem vê TV e te vai contando o que se passa, enquanto varres a casa. Sobrou-te uma mão livre? Telefona aos teus amigos e aos teus pais!Bebe o vinho (depois de telefonares aos teus pais vai fazer-te falta!). O iogurte com a maçã pode dar-te o teu par enquanto ele come a banana com Activia. No dia seguinte troquem. E menos mal que já crescemos, porque senão tínhamos que engolir mais umas cerelac's e um Danoninho Extra Cálcio todos os santos dias.

Úuuuf!

Mas se te restam 2 minutos, reenvia isto aos teus amigos (que temos que regar como as plantas) enquanto comes uma colherzinha de Muesli ou Al-Bran, que faz muito bem..."

E acrescentaria eu: ir ao ginásio, ler um livro, ouvir uma música, ir ao cinema e, claro, escrever no blog...