19.3.07

Cartas fora do baralho




Trunfos?
Um tinha umas sobrancelhas hirsutas em jeito de arbusto mal cuidado, espetadas como urze; punho erguido em sonantes gritos militantes; postura distante; e uma pochete debaixo do braço.

O outro um nariz adunco, tez amarelada e pálida, em jeito de vela de sacristia; voz aflautada e com travo das beiras; e usava botas.

Um foi o arauto dos “cassetes” do nosso país, criando uma nova forma de comunicação e perpetuação de discurso, no qual o tom monocórdico e ideologia gasta se vão repetindo e reciclando ao sabor dos tempos, ad eternum, sempre adaptados pelos cegos seguidores, que mais não são que aparelhos de banda magnética, gasta, cada vez mais gasta. Pelo meio foi dizendo “olhe que não, olhe que não!!!!”, e deixou-lhes a Festa do Avante, o mal vestir dos seus camaradas e o gosto por ser do contra mesmo quando ser do contra é a corrente, e então já não faz sentido nenhum.

O outro vinha das beiras conquistou os seus pares com o brilho da sua artis jurídica; foi apanhado no turbilhão de uma noite de rave de uns militares com os bigodaços fartos e quando deu por si tinha um país para governar; e fê-lo como sabia melhor: transformou-o num beco de sacristia, com cheiro a vela, mentalidade pequenina agarrada ao destino de o ser sempre assim, disse que “Deus, pátria e família” é que era, deu-lhes o Eusébio, a Amália, e a Nossa Senhora de Fátima. Foi pena ter se lembrado de deixar também os senhores da PIDE e a guerra do Ultramar. Mas vá lá ficamos com a bela arquitectura do Estado Novo e o Portugal dos Pequenitos.

Agora, estão os dois nomeados para Grande Português. É uma pena…

Vencedores?
As pré-estatísticas ou, melhor, as sondagens – mais oficiais do que as feitas pelos signatários - feitas em relação à votação, apontam para que os dois não sejam potenciais vencedores.
São os mais controversos do TOP 10 dos Portugueses. Provocam paixões e ódios, sem medida, a maior parte deles.
Uns salientam que, apesar das “cassetes”, Cunhal permitiu uma viragem política do nosso país; outros, do lado oposto, salientam a eficácia da governação salazarista e o de ter conseguido manter opositores bem à distância.
Diz-se que o primeiro tem contra si a falta de consenso em seu redor. E o segundo o de ter feito o país estagnar durante décadas.

Concordo que são cartas (quase) fora do baralho. Mas não nego que a proximidade temporal ainda pode trazer algumas surpresas.

E, claro, teremos sempre o Portugal dos Pequenitos…


P.S.1 Última parte de "Previsões e apostas a quatro mãos", em relação à eleição para o Maior Português. Ou não...

P.S. 2 Trunfos? por Mr. Sherlock
Vencedores? por Joaninha

1 comentário:

rtp disse...

Muito interessante! A coroar os dois posts anteriores!