19.11.09

Treto - Coppola


Um agradável convite para a ante-estreia (fica o agradecimento...) leva-me para "Tetro".

O filme, de Francis Ford Coppola, está bem estruturado - o que não surpreende, atendendo a quem o assina - e o enredo vai-se compondo assim que os minutos avançam.

Ainda que sob o carimbo de "drama" há no filme qualquer coisa de uma "estranha tragi-comédia".

O argumento é simples - Bennie viaja para Buenos Aires à procura do irmão mais velho Angie. Sem imaginar encontra um "Tetro" e não um "Angie", com personalidade e hábitos diferentes do que se recordava. Tetro já não é um génio da escrita, mas um escritor falhado.

Como a sua estadia em Buenos Aires se vai prolongado, o propósito de Bennie passa a ser, além de tentar descobrir o seu passado, recuperar a genialidade do irmão.

A banda sonora, em que reparo sempre, é consentânea com o enredo. Consistente. A fotografia - entre o preto e branco e as cores, e com todo o jogo que isso envolve - é magnífica.

Recomendo vivamente. Porque Coppola é sempre Coppola.

Saldo final - 4,5 estrelas.

15.11.09

Depeche Mode ... à 3ª é de vez!


Eis que - FINALMENTE - não existem contra-tempos e os Depeche Mode dão o concerto esperado. Ainda que em Lisboa - e estiveram tão perto de vir ao Porto - o concerto foi, sem dúvida, memorável.

Depois de uma curta 1ª parte dos Gomo, Dave Gahan e os seus compinchas tomam conta do Pavilhão Atlântico durante cerca de duas horas.

Inevitavelmente as músicas retiradas do novo álbum fizeram-se ouvir, mas foram os clássicos que renderam os coros da assistência, nomeadamente "It's no good", "Precious" e "Walking in my shoes".

Martin Gore, o guitarrista, protagonizou um dos dois momentos altos do espectáculo. A sua voz na intimista "Home" foi asolutamente inenarrável. Apenas acompanhado ao piano, sem rede. E genial!

O segundo grande momento ficou reservado para o final com "Personal Jesus", já em encore.

As imagens de vídeo abrilhantaram a noite e o som foi melhorando à medida que o Pavilhão esgotava.

Saldo final - 4 ESTRELAS

P.S. Faltou "Just Can't Get Enough", mas pode ser que venha com o regresso da banda a Portugal...

9.8.09

Esperas e aeroportos

[Vista aérea de Alghero, Sardenha]

Atrasos nos voos em cerca de duas horas permite - pelo menos a mim - um olhar mais atento pelos que esperam.

Atenta aos rituais, aos mesmos hábitos que se repetem, mesmo que as nacionalidades dos protagonistas sejam, entre si, muito diferentes. A forma como lidam com a espera, o passar impaciente das horas, foi algo que me resgatou da (minha) espera.

A atenção num casal em que ela improvisa a escrita de uns versos (um poema?) - que só a longa espera justifica - e que vai declamando, orgulhosa. Ele - diferente nos gestos - finge interessar-se, enquanto esboça um sorriso. No final, ele cruza os braços e ouve música. Ela continua agarrada ao papel e empunhando a caneta, freneticamente corrigindo e reescrevendo os seus versos.

A atenção em duas crianças que espalham barbies, cartas e legos pelo frio chão daquele aeroporto. Uma delas, com não mais do que que 4 anos, descobre a minha atenção, denunciando-a, e, destemida, pergunta: "Te vas en el avion?". E assim inicia uma repetição incessante da pergunta, que me dirige, de todas as vezes, com um riso contagiante, mesmo quando, à chegada, me volta a encontrar junto aos tapetes com as malas. A ela, a espera não incomoda, sendo apenas mais um pretexto para prolongar a sua diversão.

Descubro ainda leitores atentos, jogadores de cartas, outros que se deitam nos bancos, numa tentativa de descanso com os risos, choros e barulho como pano de fundo.

Assim lidam com a espera. O avião chega finalmente e eu guardo o papel e a caneta.

E vocês? Como lidam com a espera?

30.6.09

As "cookies"





Para quem, como eu, acompanha a jornada laboral sempre com um pacote de "cookies" ao lado, a imagem faz todo o sentido.


P.S. Obrigada pelo e-mail!

20.4.09

Tampas


Aprendo muito com ela. Hoje fiquei a saber qual o sentido de a vox populi referir os comuns tupperwares como

"tamparueres"


É porque têm tampa.


Muitos se aprende por aquelas bandas.

22.2.09

Q & A e Slumdog Millionaire

Li o livro de Vikas Swarup, Q & A (cuja tradução para português coincide com a tradução do filme para "Quem quer ser bilionário"), com a velocidade própria de quem queria comparar o texto que deu o mote ao filme com a adaptação do argumento ao grande ecrã.

Comecemos pelo livro. No livro, a personagem principal Ram Mohammad Thomas vai narrando à sua advogada, Smita Shah, o motivo pelo qual conseguiu acertar nas doze (ou treze?) perguntas do concurso televisivo.

Não estava prevista a sua vitória, não era suposto que soubesse tanto, nem, muito menos, que chegasse ao prémio mais alto que o concurso alguma vez tinha dado.

O livro, narrado na primeira pessoa, é intimista. Pela voz da personagem principal vamos conhecendo, peça por peça, ou, melhor, pergunta por pergunta, as várias peripécias da sua infância e adolescência.

Sem dúvida que o livro é consistente, bem escrito e que apresenta uma boa história. Aqui e além inspirada (conscientemente ou não) em segmentos de Charles Dickens e os cenários mais ou menos funestos da infância de um órfão.

Passemos ao filme.

Pelas mãos de Danny Boyle, é adaptado ao cinema o livro de Vikas Swarup. Já há muito que não fazia a ponte livro-filme. Até que ponto consegue um realizador transformar um livro - porque a passagem ao cinema implica necessariamente uma transformação - sem destruir a essência da escrita?

Jamal Malik - a personagem principal - às portas do grande prémio, tem que convencer a polícia indiana de que, apesar dos seus 18 anos e de ser apenas um servidor de chás, "sabia todas as respostas".

O livro, como é regra, é mais completo e, de vez em quando, reparam-se os saltos da película em relação ao texto original. Até as próprias perguntas do concurso não são coincidentes. Mas apesar desta desconformidade (e porque desconformidade não significa obra menor), o filme é meritório.

O cenário indiano dá-nos por alguma vezes um murro no estômago. Da imundice dos bairros de lata à pobreza e miséria dos pedintes.

O melhor do filme? A banda sonora. Genial mesmo. Dá um ritmo excepcional ao encadeamento dos factos e fica a vontade de levar já para casa o cd. 5 estrelas para A. R. Rahman. Já em Trainspotting (que é melhor do que este Sumbdog Millionaire) a banda sonora tinha um dos mais importantes papéis na película.

Saldo final - 4,5 estrelas. Pela comparação com o livro conduzir à conclusão que o filme podia, e devia, ter aproveitado alguns segmentos da narrativa em benefício da história.

Previsões e apostas 2009


Esta noite/madrugada todos as atenções estarão dirigidas para a entrega dos maiores prémios do cinema. Num ano especialmente marcado por argumentos adaptados e por filmes de (aparente) baixo orçamento, deverá haver poucas surpresas.

Julgo que um filme que tenha a sua história já escrita e seja, portanto, não mais do que um argumento adaptado, não deveria ganhar o óscar de melhor filme, mas a academia não se deixa seduzir pelos meus "julgamentos" e, por isso, deve mesmo vir a premiar a passagem ao ecrã de um livro bem escrito (a crítica seguirá dentro de momentos...) - "Quem quer ser bilionário?".

Recolhidos os pareceres e vistos quase todos os filmes, aqui ficam algumas tendências:

Melhor filme: Deve ganhar "Quem quer ser bilionário?". Por mim ganharia o "Estranho caso de Benjamin Button", mas talvez este só venha a vencer nas categorias de caracterização.
Melhor realizador: Gus Van Sant, com "Milk". Fugindo-lhe o óscar de melhor filme, que será o mais provável, não lhe deve escapar este justo galardão. Num filme que é, todo ele, feito à imagem do realizador.
Melhor actriz: Kate Winslet. Claro que, por mim, ganharia sempre Meryl Streep que já mais do que provou, com todos os prémios e nomeações, que é a melhor actriz da sua geração e que apresenta sempre uma representação sublime em todos os filmes em que intervém.
Melhor actor: Mickey Rouke. Já recolheu o apluso unânime da crítica, ao regressar às luzes da fama depois de uns anos na sombra. Se perder, só se for para Sean Penn, visto que o papel em "Milk" lhe assenta como uma luva. Eu torço por ele.
Melhor actriz secundária: Já quase que Penélope Cruz tem o prémio nas mãos, mas estaria melhor nas de Viola Davis que tem uma interpretação irreprensível no filme "Dúvida". Resta saber se a Academia se deixa convencer por uma interpretação de apenas cerca de 10 minutos. A mim convenceu.
Melhor actor secundário: Heath Ledger. A título póstumo e quase certo.

Logo se verá.

2.2.09

Benjamin Button


Fui avisada de que o filme duraria quase três horas mas que nem se sentia o tempo passar. Como se de uma metáfora em relação ao próprio filme se tratasse, em jeito de relógio que vai andando para trás, manifestando um acto de catarse do relojoeiro.
"O estranho caso de Benjamin Button" não ignora a grandeza que o envolve nem o impacto que causa a quem o vê.

Baseado na "short story" história de Scott Fitzgerald com o mesmo nome, é sobretudo pelo argumento que o filme tem algumas cartas (de trunfo) a dar. Ainda que seja um argumento adaptado, é enriquecido com umas pinceladas de actualidade, nomeadamente o tempo real em que são recordados os momentos da vida da personagem principal suceder em 2005, em pleno Katrina.

Sob a pena de um dos meus realizadores favoritos - David Fincher (que já me tinha roubado muitos aplausos com Seven, não devendo este ano a estatueta dourada escapar-lhe) - temos a histórica de Benjamin, cujo nascimento ocorre no final da 1ª Guerra Mundial, e cuja vida é o contrário do esperado. Começa-se com rugas e acaba-se num bébé. E ainda que a frase "no final, todos acabamos de fraldas" seja o mote do filme, todos os contra-tempos e fases vividas em turbulência num corpo que vai rejuvenescendo são dignas de apreço e muito bem conseguidas.
A caracterização tem aqui um papel irrepreensível. Como envelhecer e rejuvenescer Brad Pitt e Cate Blanchet (e todas as outras personagens secundárias) parece ser uma operação tão simples para a produção do filme.
Brad Pitt tem uma representação consistente, mas talvez um pouco abaixo do que esperava. Reconhece-se, não obstante, que foi uma boa escolha para a personagem central.

Um filme a não perder, que recomendo.

Saldo final - 4 estrelas (sob reserva de correcção superveniente - para mais -, caso os filmes que estão para vir/ver se revelarem como de segunda linha).

28.1.09

O regresso de Woody Allen


Nos preparativos para as apostas para os melhores filmes do ano, regressei às salas de cinema (após um largo período de jejum, reconheço).

Desta vez, para rever Woody Allen e a sua incessante busca da compreensão do comportamento humano relacional. Vicky Cristina Barcelona não deve ter pretensões em chegar ao nível de Match Point ou sequer de Scoop. Ao nível do argumento, este é mais comum, quase em jeito de filme de Domingo à tarde.

Quanto à representação, só mesmo Penélope Cruz consegue subir a fasquia e destacar-se dos restantes, talvez por isso mesmo se compreenda a sua nomeação para o Óscar de Melhor Actriz Secundária.

A história, em si, não podia ser mais simples. Duas amigas vão de férias para Barcelona e uma delas, em vésperas de casamento, começa a avaliar se terá feito uma boa escolha e se todos os princípios e (pre)conceitos que a caracterizam têm realmente sentido. O já esgotado (a nível de cinema) conflito entre razão-emoção surge, uma vez mais, aqui retratado.

Além da representação de Penélope Cruz, destaca-se a banda sonora, diversificada, mas, inevitavelmente com domínio espanhol, de que saliento Paco de Lucia. E, ainda, a cidade. Barcelona.

Saldo final - 3 estrelas.

4.1.09

Paris




Uns dias depois da entrada em 2009, fica um breve olhar sobre os últimos dias de 2008 e os primeiros de 2009 em Paris. Aquela que é, por muitos, e justamente, designada de "Cidade Luz".

O frio foi sempre a nossa companhia e o sol só brilhou, sem aquecer, no último dia. Quase que nos habituamos a que estas viagens, de fim de ano, sejam fugas para o frio.

Os turistas tomam de assalto a capital francesa, provenientes de todos os cantos do mundo e de máquina fotográfica/ de filmar em punho. Tudo é motivo para uma foto - desde os mais diversos ângulos da Torre Eiffel, a todas as obras expostas no Louvre, sem esquecer toda a luz dos Campos Elísios.

Paris é imensa. Nos monumentos, nas pessoas, nas ruas, nos jardins, no interesse histórico, nos museus. E nos preços, também. Mas isso já se esperava. Com tanto turismo, há sempre alguém disposto a pagar os preços exorbitantes mesmo sem pestanejar.

O essencial:
- andar a pé - conhecer a cidade sem ser através de fugazes saídas nas estações de metro. Claro que isto implica tempo, organização e boas leituras dos mapas (nem sempre fácil, reconheço);
- museus - há muitos e sob a égide de várias temáticas. O de Orsay e o do Louvre são imperdíveis. De manhã bem cedo, para evitar as horas de espera. O do Louvre (que reclama quase um dia inteiro para ver, pelo menos na diagonal, toda as obras) com as atracções por todos conhecidas - Mona Lisa, Vénus de Milo, ou a Vitória da Samotrácia. E, das minhas preferidas, as obras relativas às estações do ano, de Arcimboldo, para demonstrar que a pintura pode ser divertida.



Aquele que foi, em 2007, o museu mais visitado do mundo confirma, e supera, todas as expectativas.
- os jardins, palácios e catedrais;
- a comida - não se pode prescindir dos crepes, das baguetes e dos queijos;
- a luz - uma cidade com brilho próprio, mesmo quando a época do ano se caracteriza por algum cinzento.

E, naturalmente, todos os símbolos da cidade, sobejamente conhecidos.

Ficaram por ver alguns museus de destaque e um espectáculo no Moulin Rouge (por ausência de lugares vagos...). Talvez para o ano!

Para ver, rever e prolongar estadias.