13.2.07

Previsões e apostas (a quatro mãos) - ii

Encontrando-se em debate, e a votos, a figura que será o Maior Português, não quiseram o Em Fuga e o Motivos e Pretextos ficar à margem da eleição, e juntaram-se os signatários dos respectivos blogs para ponderar quanto ao top 10, mais concretamente quanto à probabilidade de cada um dos dez nomes sair vencedor.

Nesta primeira parte [devido à escrita desenfreada de Mr. Sherlock, isto teve mesmo que ser dividido em partes], têm lugar aqueles que têm maior probabilidade de vir a ganhar a estatueta.
Aqui estão eles. Divirtam-se!

Os óbvios

- D. Afonso Henriques (1109-1185)




Mr. Sherlock:
O óbvio dos óbvios. Considerado o pai dos pais. Típico português: teimoso, mandou-se para frente, adorava discutir com os vizinhos e batia na mãe (ou pelo menos dizia mal dela). Falta saber se ia para os shoppings ao domingo à tarde e se tinha a bela da proeminente unha do mindinho da mão direita; pelo menos bigode tinha. Ah, já me esquecia, adorava andar à batatada com o pessoal.
Foi pena o Prof. Freitas do Amaral, autor de uma obra séria sobre este senhor de terras de Guimarães, estivesse doente, e não tenha aceite defender o primeiro rei de Portugal. Eu não lhe chamaria o primeiro português como alguns insistem.
Quando tudo indicava que a vitória esta garantida avistam-se sinais de que não será assim e se conseguir ficar no pódio é uma sorte.
Pelo marketing devia ganhar: não falta livro escolar sem ele na capa, e quem tiver visitado a cidade berço e não tenha trazido a bela da estátua deste senhor não é modo.
O povo é saudosista e gosta de andar à batatada com os progenitores e com os vizinhos…

Joaninha:
Probabilidade – 60%.
Sim. É o 1º Rei de Portugal e determinou a fronteira que actualmente temos, mas tem contra si, nesta eleição, a distância temporal. Mostram as escolhas ocorridas nos outros países que a tendência é escolher uma personalidade mais recente. Por outro lado, não é consensual.
Fiquei agora a saber que o típico português bate na mãe… Dever ser para os lados da cidade que alguns denominam “where the streets have no name”.

- Luís de Camões (1524-1580)



Mr. Sherlock:
Better known como aquele tipo da pala do olho. Outro com um marketing genial. Mas neste caso jogando a seu favor. Agora já não; mas todos aqueles que no 9.º ano tiveram de aturar os Lusíadas, e aqueles que há muitos anos no antigo regime tinham de saber as declinações e orações todas de cor, podem trazer algum rancor e más memórias de chumbos camonianos na algibeira. O que jogará concerteza a desfavor do homem das folhas de louro na cabeça e da pala no olho.
As miúdas que vão descalças para as fontes devem votar todas nele já que as imortalizou. O problema é que agora com as lojas dos chineses o que não faltam são chanatas a preço da chuva.
Por outro lado, a malta de além da Trapobana também deve votar nele, só é pena serem de longe e estarem a milhas do que se passa aqui.
Depois há o perdigão que perdeu a asa, mas como perdeu a asa deve custar-lhe a votar.
Eu cá gostava de estar na sala da mesa de voto quando as meninas da ilha dos amores fossem às urnas. Isso é que valia a pena. Não se esqueçam de me avisar. Que aqui faz muito frio e não há miúdas com as miudezas à mostra, e dizia o moço da pala que elas valiam mesmo a pena.
Depois há o factor coacção: ele devia ser primo do Zandinga, porque à cautela deixou virados as armas e os canhões, a modos de como quem diz, não votas em mim levas balázio no lombo.
Cá pr’a mim ganha ele. Se bem que com o novo P.R. nunca se sabe.
Ainda fica com menos um ponto, tipo 9 em vez de 10.

Joaninha:

Probabilidade – 75%.
Acredito que é dos que tem maiores possibilidades de ganhar. Não me surpreenderia nem me desiludiria. Foi, sem dúvida, dos melhores poetas portugueses e cantou, como ninguém, há que dizê-lo, o povo português. Por alguma razão, o dia de Portugal (10 de Junho) é também o seu dia.
Ao contrário do Mr. Sherlock, não provocou rancor à Joaninha os cantos de Camões, mas também não os tinha de decorar!

- Fernando Pessoa (1888-1935)



Mr. Sherlock:
Bem, o senhor do bigodinho e dos “óculos de tartaruga à neca” tá em vantagem. Cá pra’ mim aquilo dos heterónimos foi jogada antecipada para estar em vantagem numérica, em jeito de contornar as probabilidades. Com tanta personalidade múltipla é natural que consiga arranjar adeptos por tudo o que é lado. Ou não…
Conta com o apoio dos intelectuais e de todos aqueles camones e outros turistas que se sentaram a seu lado no chiado e cuja fotografia que guardou esse momento pá eternidade está conservada num qualquer álbum de fotografias religiosamente arquivado.
A malta que chumbou no exame de 12.º ano por não conseguir descortinar qual era afinal a mensagem que este senhor queria passar, e nem mesmo com recurso ao código morsa chegaram lá.
Eu cá apoio o senhor.
Se aparecer uma Lídia que me queira dar a mão num fim de tarde à beira rio que me ligue…
Cá para mim ou ganha este ou ganha o moço da pala…
Ps: já aqui se vê a tendência nacional para o mau funcionamento oftálmico ou oftalmológico: ou são paletas ou usa óculos de fundo de garrafa. Bem razão tinha o outro quando dizia que o nosso problema era falta de visão…

Joaninha:

Probabilidade – 40%.
É aquele por quem vou torcer. E, se votasse, seria nele. O nome que mais vezes citei neste blog e um poeta que me conquista em cada linha que escreve. Com os seus heterónimos, a sua capacidade de construir personagens ou com a sua "Mensagem", Fernando Pessoa pode vir a surpreender. É o que espero, pelo menos.
Mr. Sherlock também usa lupa… Será em solidariedade com a falta de visão deste painel?

- Vasco da Gama (1469-1524)


Mr. Sherlock:

Eu conheci uma vez um miúdo de uma escola secundária prós lados a sul de Gaia, abaixo do Porto, que concorreu ao concurso nacional da fundação dos descobrimentos para ganhar uma viagem a Macau com um texto jornalístico (pelos vistos polémico, mas muito bem intencionado, no vigor da irreverência juvenil) que colocava com uma boa dose de humor de nonsense o tema a viagem dos portugueses à índia nos seguintes termos: a entrevista era com o protagonista do auto da Índia de Gil Vicente, aquele que foi fortemente enganado pela mulher e ficou com aquele problema que para além de o por a andar de eléctrico fez com que estragasse e riscasse o verniz de tudo o que era porta em que queria entrar, e que só foi traído porque o meteram numa nau comandada por este senhor, que ao que essa reportagem apurou não percebia nada das artes de marear limitando-se a sacar da sua bazófia e dar umas ordens assim por dá cá aquela palha. Conclusão: o entrevistado desmistificava este senhor de barbas compridas e chapéu amaricado, sempre com o bastão na mão (ou mapa ou lá o que é), e dizia que quem tinha descoberto a Índia tinha sido ele e o resto da tripulação que fez com que a barcarola chegasse à terra do Sandokan.
É óbvio que o puto não foi a Macau. E é óbvio também, que a pessoa em que o puto se tornou continua céptica em relação ao senhor das barbas que tinha a mania que era marinheiro mas quis foi mas é fazer altos filmes para os lados da terra onde os tigres sofrem de ciática e têm os joelhos fracos e por isso andam de Bengala. Há quem diga que ele é o pai de Bollywood. Eu não sei, mas que no meu videoclube há uma legião de fãs considerável que esgotam estes filmes musicais com muita pancada à mistura.
Ps: tivesse o coitado do Henriques de sobrenome ter tido a sorte de o levarem a dar um passeio à Índia e tinha-se posto logo em aulas de canto para poder entrar nestes filmes de pancada onde se canta um bocadito ou filmes com muita canção onde se dá umas pancadas nos mauzões de vez em quando.

Joaninha:
Probabilidade – 60%.
Acho que resulta deste top 10 a tendência dos portugueses pelos Descobrimentos portugueses. São várias as figuras ligadas a esta fase histórica e Vasco da Gama é a cereja em cima do bolo. Navegador português que descobriu o caminho marítimo para a Índia.
Gostei da recordação do “Auto da Índia”, que muito animou as nossas aulas de Português, principalmente com a frase final – “Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube!”.

- Infante D. Henrique (1394-1460)



Mr. Sherlock:
Nós por cá gostamos muito deste senhor. Foi a irmã dele que trouxe cá para a Britain [não confundir com Britney, by goodness sake!!! (e não também não me estou a referir à bebida japonoca que anda na moda)] como dote de casamento umas folhas de ervazitas descoloradas que quando se metem em água fervente acabam por dar em sumo que sabe bem quando se bebe por volta das 16h59 e mais alguns minutos.
Por sua conta, este senhor que era um verdadeiro “guna” da ribeira, local onde foi nado e criado, conhecido por ter a mania de querer descobrir novos horizontes ter iniciado a mania de se divertir à noite na outra margem do douro.
O seu penteado à tigelinha indica que a veia de guna foi abandonada a meio do processo e virou-se para a onda de jogar basquetebol com uma catrefada de marinheiros. São opções…
De qualquer das formas da paixão pelos marujos mudou-se com audácia para moda de construir estaleiros, talvez lhe tenha dado queda para os carpinteiros. Nunca se sabe.
Foi o pai dos descobrimentos, pese embora não ter ficado conhecido por botar pé num barco; se calhar era dado aos achaques e aos enjoos.
Ficou conhecido pela estátua ao lado da torre que há na zona onde os pastéis de nata fazem furor.
Toda a gente o conhece, mas duvido que alguém se lembre dele para este efeito. Talvez a malta que anda a escavar ali para os lados da ribeira e a desenterrar os seus brinquedos de criança se mobilize para votarem no homem que lhes dá que fazer (que isto de ser arqueólogo só compensa para quem morar no Egipto ou para quem se chamar Indiana Jones).

Joaninha:
Probabilidade – 50%.
É, a par de D. João II, a figura que conquista a adesão de algumas pessoas que me rodeiam. Cabendo o voto ao português médio não acredito que ganhe, mas não nego a possibilidade, tendo em conta ter impulsionado a expansão ultramarina.
Muito se aprende com o Mr. Sherlock. Além do mérito de decifrar crimes estranhos, agora consegue ver à lupa a verdadeira realidade por trás de grandes mitos… Quem diria que o Infante D. Henrique era, afinal, um “guna da ribeira”?

Agora, resta esperar pela próxima entrega destes divertidos fascículos em capítulos promovidos pelo M&P e pelo EmFuga.

Até já... (ora aí está uma frase de um grande português que não sei como não ficou no top10, nem sequer no top100)

3 comentários:

rtp disse...

Esta parceria deu novamente frutos deliciosos.
Muito bem. Conseguiram que prestasse atenção à eleição que me tem passado completamente ao lado.
Gostei do tom humorístico e da enorme lição de sapiência dada por ambos (claro que Mr. Sherlock revela um conhecimento mais profundo, quase intimo, de alguns destes vultos!).
Tal como a joaninha, foi sem fastio que li os Lusíadas. Também eu não tive de os decorar!
Não tenho preferências. Não faço escolhas ... até porque espero “pela próxima entrega destes divertidos fascículos em capítulos promovidos pelo M&P e pelo EmFuga”. :-)

Condessa disse...

Eu, tal como já disse no blog do Tiburcius, votarei em Pessoa. Por tudo, por nada...porque gosto!!! Procurarei apenas abstrair-me da 'criaturinha' irritante que é a sua defensora... mas enfim, todos têm a sua cruz e Pessoa ficou com a Clara Ferreira Alves!

Condessa disse...

Esqueci-me de dizer: não chumbei nos exames de Português graças a ele(s)...pelo contrário, acho que se tive boas notas a ele(s) e à sua inspiração o devo!!!