Atrasos nos voos em cerca de duas horas permite - pelo menos a mim - um olhar mais atento pelos que esperam.
Atenta aos rituais, aos mesmos hábitos que se repetem, mesmo que as nacionalidades dos protagonistas sejam, entre si, muito diferentes. A forma como lidam com a espera, o passar impaciente das horas, foi algo que me resgatou da (minha) espera.
A atenção num casal em que ela improvisa a escrita de uns versos (um poema?) - que só a longa espera justifica - e que vai declamando, orgulhosa. Ele - diferente nos gestos - finge interessar-se, enquanto esboça um sorriso. No final, ele cruza os braços e ouve música. Ela continua agarrada ao papel e empunhando a caneta, freneticamente corrigindo e reescrevendo os seus versos.
A atenção em duas crianças que espalham barbies, cartas e legos pelo frio chão daquele aeroporto. Uma delas, com não mais do que que 4 anos, descobre a minha atenção, denunciando-a, e, destemida, pergunta: "Te vas en el avion?". E assim inicia uma repetição incessante da pergunta, que me dirige, de todas as vezes, com um riso contagiante, mesmo quando, à chegada, me volta a encontrar junto aos tapetes com as malas. A ela, a espera não incomoda, sendo apenas mais um pretexto para prolongar a sua diversão.
Descubro ainda leitores atentos, jogadores de cartas, outros que se deitam nos bancos, numa tentativa de descanso com os risos, choros e barulho como pano de fundo.
Assim lidam com a espera. O avião chega finalmente e eu guardo o papel e a caneta.
E vocês? Como lidam com a espera?