30.10.06

Problemas técnicos

Está aquele que se designa a si próprio como "Técnico de informática" a tentar arranjar a impressora do escritório. Estou a tentar controlar-me para não lhe gritar:

- "Sabe, tenho alguma urgência em imprimir a tese!"

Ontem, o computador esteve em greve durante cerca de 1 hora. Agora é a impressora que teima em imprimir as folhas bem escurinhas...

O que mais pode acontecer??

26.10.06

Biblioteca Infernal


Reúnem-se os grupos, revêem-se caras que não se viam há muito tempo. E está aberta a Biblioteca da FDUP.

A Biblioteca Infernal acolhe apenas cerca de 50 pessoas. Em jeito intimista, os elementos do DireitoàCena julgam, numa Biblioteca, e condenam a uma terapia de leitura, adaptando o conto de Zoran Zivkovic.

Entre o divertido diálogo julgadores/julgado, recordam-se poemas.

Há lugar para Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Vergílio Ferreira, Ary dos Santos e Mário de Sá Carneiro, entre outros.

Lêem-se alguns artigos do Código de Seabra, entre os quais aquele que “desculpa” o adultério do marido [e não da mulher] como causa de divórcio. Um dos momentos mais hilariantes do espectáculo.

Fica a certeza que o grupo deve ser levado a sério, que tem uma inegável qualidade e que o cenário foi o ideal.

Como seria impossível a transcrição de todos os textos lidos, apenas fica um excerto de um dos meus preferidos:

“- Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores.

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira
- Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado,
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

[…]

- Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras:
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.”

(Mário de Sá Carneiro, “Caranguejola”)

Fico à espera da próxima peça…

24.10.06

Marie Antoinette, segundo Coppola


A realizadora só por si, depois do sucesso [merecido] alcançado com Lost in Translation, tem a capacidade de despertar a curiosidade do público e encher uma sala de cinema.

Começo pelos pontos menos positivos do filme. Em primeiro lugar, problemas técnicos. Um microfone aparece várias vezes no ecrã... Seria um adereço da época?
Por outro lado, o argumento podia ser mais rico. Ainda que possa ser a imagem de marca da realizadora [como se viu no seu filme anterior], Marie Antoinette apresenta alguns momentos menos dinâmicos sem qualquer justificação.

No entanto, julgo que o filme está muito bem conseguido. A banda sonora está divinal. Fora de época, naturalmente. Mas de acordo com o "fora de época" que é retrata a personagem central. Também esta se sente desenquadrada.

Saliento pormenores absolutamente deliciosos - momentos tendencialmente privados são vividos na presença de todos os membros da corte: a noite de núpcias, o acordar diário ou o nascimento.

O cenário é deslumbrante, bem como a indumentária da época.



Kirsten Dunst confirma que é uma actriz para todos os registos. Desde o drama à comédia. E surge, aqui, bem acompanhada por Jason Schwartzman - um Louis XVI com um divertido problema em consumar o casamento!...

Recomendo. E leva 4 estrelas.

23.10.06

Esperas inúteis


Lembro-me de numa aula de inglês, algures no 10º ano, se fazer referência ao fenómeno do "queuing". Ao hábito, tipicamente inglês, de esperar em filas.

Hoje evoquei essa aula quando ouvi na rádio um comentário às filas:

"Porque motivo os portugueses, quando esperam em filas, têm a tendência de se colarem à pessoa da frente?"

É a mais pura verdade! Se alguém avança dois centímetros na fila, temos logo que nos chegar três cêntimetros à frente e transmitir a nossa maior proximidade (e odor corporal!...) à pessoa da frente.

Uma óptima descoberta foi mesmo os tickets de atendimento... Pena é que não existem para tudo!!!
Continuam as filas para: supermercados, transportes públicos, correios, cinema, bares e discotecas.

P.S.1 Título do post inspirado num verso do poema "Adeus", de Eugénio de Andrade - "Gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis".

P.S.2 E alguém me sabe explicar porque é que as filas são indianas???

P.S.3 E os "queue jumpers"? Quantas vezes não fomos?

20.10.06

Imagem do dia - ii


O que parece ser apenas um monte de resíduos, afinal tem o seu encanto.
Fabuloso!

18.10.06

A fusão Portugal-Espanha


Vem este post no âmbito da sondagem da revista espanhola Tiempo. Assim, de acordo com aquela publicação, 45,6% dos nuestros hermanos querem a fusão com o nosso país.
Não satisfeitos com tamanha pretensão, sugerem mesmo que o nome do novo país deve ser Espanha, enquanto alguns, timidamente, sugerem Ibéria. Referem, ainda, que a capital devia ser Madrid [outra coisa não se esperava, claro!].
O que é mais surpreendente é o facto de os mais favoráveis serem os mais novos.

Sou absolutamente contra esta fusão com Espanha. Gosto da República, da Língua Portuguesa, dos portugueses [velho é o ditado - "de Espanha nem bom vento nem bom casamento"...], das nossas praias, da nossa história, da nossa música, dos nossos hábitos alimentares, do vinho do Porto e da proibição dos touros de morte.

No entanto, há alguns pontos positivos - teríamos direito à siesta, a gasolina seria mais barata, não estaríamos na cauda da Europa nas estatísticas comunitárias, teríamos cidades maravilhosas como Madrid, Barcelona, Sevilha ou Santiago de Compostela... E as tapas seriam bem mais frequentes! Mas isso não seria suficiente...

17.10.06

Entre rios

Pretendendo saber antecipadamente se a tese se afunda ou flutua e se, caso se afunde, qual o tempo médio até que as páginas fiquem encharcadas, decidi fazer um teste.

Qual será o melhor rio para concretizar?

O rio Douro?



... ou o rio Mondego?



Vem esta comparação no seguimento do anterior Entre queimas, que visou confrontar as queimas do Porto e de Coimbra.

Agora os rios.

O rio Douro tem sempre uma cor resplandecente e, quando coberto de nevoeiro, fica incomparável. Além disso, as margens são coloridas e exibem a história de uma cidade - A Invicta.

Ainda que não seja 100% português (ao contrário do Mondego), extende-se por 927 km (contra 234 km do Mondego). O que constitui, sem dúvida, um belo percurso para uma tese.

Resta viajar, então, até à Serra de Urbion para que seja feita a experiência.

15.10.06

Rituais - ii


Sempre a conheci como cultivadora de rituais tradicionais e, de cada vez que surgia um problema, haveria sempre uma forma "caseira" de o tratar.

Recordo, com saudade, todos os rituais a que recorria.

- Para vencer o estado "augado", haveria que comer um bolo atrás de uma porta. Divinal, não?
- Quando alguém tinha um torcicolo, o tratamento passava por colocar uma peça em madeira no pescoço, durante uns dias consecutivos.
- Quase todas as semanas [não consigo precisar a frequência], todos os netos tinham que saltar um certo número de vezes por cima de um prato onde ardia incenso. Para nós era um divertimento, para ela um ritual solene. Nunca cheguei a perceber qual era o propósito desse processo...

E estes são apenas os que recordo com clareza. Muitos outros existiriam. Ainda que pudessem não ser eficazes [admito que não fossem], todos adorávamos fintar a medicina e deixarmo-nos levar por aqueles rituais.


13.10.06

CSI dos anos 40


Sem as técnicas e materiais de uma série televisiva do século XXI, Brian de Palma retrata, de forma mediana, um crime (verídico) ocorrido na década de 40.

Betty Short (também chamada de "Dália Negra"), de 15 anos e aspirante ao universo "Hollywood", é assassinada brutalmente. Lee Blanchard (Aaron Eckhart) e Bucky Bleichert (Josh Hartnett) são chamados a investigar o arrepiante homicídio.

Fica o aviso das imagens algo "pesadas" que o filme mostra.

Como ponto positivo, saliento a qualidade da fotografia. As imagens levemente amarelecidas ajudam a transportar o espectador para a realidade dos anos 40.
Gostei do humor do argumento, principalmente quando o "chique/classe alta" se deixa contaminar com o sub-mundo.

Hillary Swank tem uma interpretação bem mais conseguida que a de Scarlett Johansson. Esta não se aproxima sequer das interpretações conseguidas em "Lost in translation" ou "Match Point". Até a ala masculina ficou desiludida com o seu habitual encanto...
A personagem feminina de destaque foi, para mim, a desempenhada por Fiona Shaw. Magnífica!

O filme não desilude, mas também não deslumbra. Uma história bem contada com imagens que nos acompanham - pela sua brutalidade -, inevitavelmente, até casa...

12.10.06

Imagem do dia - i

Só para simplificar...




P.S. Procura-se pessoa idónea para execução do projecto da imagem. Oferece-se negócio lucrativo!

10.10.06

Entre J.'s

J1 - Tenho uma dúvida.
J2 - Diz.
J1 - [...]
J2 - Mas isso não é da tua área?
J1 - Sim. Vamos fazer de conta que estou a falar com a minha consciência.
J2 - Eu sou a tua consciência?
J1 - Se tu fosses a minha consciência, eu andava perdida...

Dadas as queixas, fica o anúncio:

9.10.06

Bendita eloquência - iii


"Pedras no caminho?
Guardo todas...
Um dia vou construir um castelo!"

Fernando Pessoa


Tendo já dedicado dois "post" à eloquência masculina, hoje rendo-me ao meu género.

O mote era um poema de Fernando Pessoa que termina com aqueles versos acima citados. Entre várias vozes femininas que, no grupo, se pronunciavam, houve uma, a de outra J., que nos venceu em eloquência.

"Pedras no caminho? Guardo todas... Um dia alguém vai levar com elas!..."

Sem comentários para tamanha eloquência.

7.10.06

(Des)inspiração

"Há mais de meia hora
Que estou sentado à secretária
Com o único intuito
De olhar para ela.
(Estes versos estão fora do meu ritmo.
Eu também estou fora do meu ritmo.)
Tinteiro grande à frente.
Canetas com aparos novos à frente.
Mais para cá papel muito limpo.
Ao lado esquerdo um volume da "Enciclopédia Britânica".
Ao lado direito –
Ah, ao lado direito!
A faca de papel com que ontem
Não tive paciência para abrir completamente
O livro que me interessava e não lerei.

Quem pudesse sintonizar tudo isto!"

Álvaro de Campos (03/01/1935)

Adaptando aos tempos modernos, dir-se-ia computador ligado, livros e fotocópias de cada um dos lados.
Mantém-se a falta de paciência e inspiração. Imutáveis mesmo com a passagem do tempo!

5.10.06

Na moda ou fora de moda - ii

No seguimento do post anterior, continuo o meu percurso pelos objectos que a FHM considera fora de moda.

Um deles - que me proporcionou uma incontrolável gargalhada - foi mesmo o mítico blusão de penas.




Há uns bons anos atrás, não havia um adolescente que não o tivesse e parecia que o mais popular era aquele que tinha o maior número de penas por centímetro quadrado.
Presumo que deve ter evitado muitas gripes, já que era impossível uma temperatura corporal inferior a 40º quando era usado.

Talvez esteja fora de moda. Não uso. Mas usei. Em tom avermelhado se bem me recordo...

Absolutamente irresistíveis eram as pastilhas elásticas Gorila (ou esticas, na nomenclatura da minha avó).

Com uma dimensão assustadora, faziam-se bolas consideráveis e ginasticavam-se os maxilares.

Agora, foram ultrapassadas pelas pastilhas com sabores, de tamanho mais reduzido, sem açúcar, com propriedade branqueadora.

As "gorila" não tinham essas propriedades mas eram mesmo as mais cobiçadas e o objectivo era ver, na altura, quem conseguia mascar o maior número de "gorila"...

3.10.06

Na moda ou fora de moda - i


Ontem tive a oportunidade de esfolhear a revista masculina FHM.

Um dos artigos que a revista tinha referia-se às 100 coisas que passaram de moda, ou seja, que já não se usam ou não se devem usar, não se bebem, não se comem, não se ouvem.

À medida que, na diagonal, lia esses 100 itens, não pude deixar de recordar o desaparecimento saudoso de coisas que, algures no tempo, eram objecto de culto.

Um dos que recordo é este:

O Caprisone bebia-se a qualquer hora do dia e, de preferência, em todos os sabores. Desde o mais tradicional [o de laranja], passando pelo arrojado [cola] até ao saboroso [maça]. Adorava.

Tinha uma embalagem nada cómoda e era um trabalho apreciável conseguir o melhor ângulo para colocar a palhinha. Saboreei-o, pela última vez [e já não bebia há muito tempo], em Agosto, algures na costa da Bósnia.

Não está, definitivamente, na moda. Mas ainda não passou à história. Pelo menos para mim.

P.S. Para o próximo post, outro recuerdo...

1.10.06

Eu e a música



Comemora-se hoje o Dia Mundial da Música.
Para mim a dita - a música - sempre fez parte do quotidiano. Não recordo um dia que tenha passado sem ouvir qualquer melodia, quanto mais não fosse a minha própria voz a tentar - sem conseguir - entoar algumas notas.

Lembro-me que, enquanto estive sem rádio no carro, me irritava muito mais facilmente com os outros condutores e dava por mim, invariavelmente, a falar sozinha...

Com rádio, salto constantemente de uma estação para a outra na esperança de encontrar uma música que me encha o ouvido. Não tenho paciência para ouvir música de que não gosto!

Se tivesse que escolher as minhas músicas de eleição, aquelas que ficam com a passagem do tempo e não cristalizam num dado momento, do elenco fariam parte, inevitavelmente, Black (Pearl Jam), One (U2), Shed my Skin (D Note), Close to me (The Cure) e Dancing in the dark (Bruce Springsteen).

Qualquer uma delas ouviria em modo "repeat" o dia todo! Mas hoje pode ser mesmo esta.